terça-feira, 16 de março de 2010

Avulsidades dessa vida

Nesta valsa dormente em que nossos pertences, solidão, amor, traição... se emaranham neste passos e canções sem fim... brigando contra o tempo, lutando com esperança, por um pedaço deste ingresso, uma chave, deste baile de fantasias em plena quarta-feira de cinzas.
Calada, presa nas entrelinhas, escorrego nas margens, pedaço por pedaço eu me desfaço, me livrando dessas linhas e viro o compasso mais ritmado desse domingo.

Neve fria,
vira gelo
pós chuva fina,

mimos
para curar do roxo
deste abismo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Marca-passos

- Quando fiquei sabendo que ela me traiu, não só de corpo, mas de espírito também, desabei como um edifício velho e vendido para uma reconstrutora.
Fui destruída durante alguns dias, meses, anos, as poucos senti meu peito frágil ser aberto com uma martelo enferrujado, senti arrancar-me o coração e colocar no lugar uma pedra maciça de granito.
Desde então todos querem destruir minhas paredes, meu concreto, meu aço, meu frio nessas noites de verão.
Me tornei um iceberg duro feito da fé. Nada é tão abominável como uma nova estrutura exposta ao sol todos os dias.
No suor apimentado que saia pelos meus poros, pela primeira vez me senti livre, pois percebi que meu concreto e meu aço eram feitos da minha coragem de ter orgulho de ser algo tão singular


Foto: Psilocybe mexicana

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Petit

Ela constriu uma caixa de gelo confortável,
ela guarda seus sonhos preferidos.
Fugiu mais uma vez da vida,
está correndo entre pregos e asfalto e
sua sola é de borracha flexível.

O tempo é nosso inimigo. - ela diz. -
Sua execução deve ser programada para o 12:00am.
E depois devemos nos lembrar que aqui dentro onde tudo parece narcisismo existe amor verdadeiro.
A vida sempre espera do lado de fora.

Ela nunca mente quando vem pra dizer verdades.
Precisa de muito pouco pra ser feliz é menina do mato.
Só quer um canto de paz pra descançar enquanto tudo é tão cansativo.
Mais um dose de adrenalina não faz mal.

Seu medo é não viver como queria.
É tão humana e se fere todas as vezes quando tenta não feri-los.
Põe a cabeça no meu ombro e diz que não quer ir embora tão cedo.
Estamos perdidos, mas ela sabe o caminho.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Água viva

"Embora tudo seja tão frágil. Sinto-me tão perdida. Vivo de um segredo que se irradia em raios luminosos que me ofuscariam se eu não os cobrisse com um manto pesado de falsas certezas. Que o Deus me ajude: estou sem guia e é de novo escuro."
Água viva, Clarice Lispector.



Não preciso de suas fórmulas razas, de tua pena, de tua espada.
Me dê mais oxigênio.
Sou feita de água, sou feita de fome.
Fui repartir o bolo com uns amigos meus,
fiquei com os farelos, me contentei com minhas migalhas.
Doei-me as cantos sujos, as mesas imundas, aos copos fedidos.
Voei mais alto que os pássaros pretos,
mergulhei tão fundo que pude tocar com meus dedos os abismo da alma.
Agora este sentimentalismo, essa carência me devoram.
Eu assisto a destruição do homem, da verdade, da liberdade,
me sinto um aleijado de humanidade.
Ninguém quer um problema por perto,
muito melhor uma festa regada a substâncias ilícitas.
Inconsolados, perdidos, arruinados em nossa própria escuridão,
afogamos nosso ódio em nossos livros prediletos,
sonhando amores ilusórios ao som de Chopin, caçadas e guerras santas...
nosso peito aguenta mais que nossa cabeça
e pesa, feito marmoré no pé.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Interesses

Vem, passa por aqui amor,
traz o aroma das flores que moram em sua cabeça,
não, não deixe o mundo te derrubar, vem me amar.

Da tua ancora no meu corpo
ficam as cicatrizes nas margens que tropeçaste,
mas faz parte de todo mundo uma vez arrancar os olhos de suas paixões.

Sempre fico aqui esperando muito mais,
que esse choro guardado de tuas desilusões.
Eu cansei de ficar com o pior de ti,
de ser a água pra matar tua sede de canções.


Foto: Filme "Closer - Perto demais"


Deita aqui do meu lado, não dorme não,
fica acordada comigo enquanto o mundo desaba la fora
e as pessoas dormem pra não amar
amargurados com o que não é vida, sonhando Torres de Babel.

Procurei em todo canto tua presença,
mas os anos te levaram de mim.
Ficou só meu canto desafinado
tentando em todos os compassos te encontrar.