quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Água viva

"Embora tudo seja tão frágil. Sinto-me tão perdida. Vivo de um segredo que se irradia em raios luminosos que me ofuscariam se eu não os cobrisse com um manto pesado de falsas certezas. Que o Deus me ajude: estou sem guia e é de novo escuro."
Água viva, Clarice Lispector.



Não preciso de suas fórmulas razas, de tua pena, de tua espada.
Me dê mais oxigênio.
Sou feita de água, sou feita de fome.
Fui repartir o bolo com uns amigos meus,
fiquei com os farelos, me contentei com minhas migalhas.
Doei-me as cantos sujos, as mesas imundas, aos copos fedidos.
Voei mais alto que os pássaros pretos,
mergulhei tão fundo que pude tocar com meus dedos os abismo da alma.
Agora este sentimentalismo, essa carência me devoram.
Eu assisto a destruição do homem, da verdade, da liberdade,
me sinto um aleijado de humanidade.
Ninguém quer um problema por perto,
muito melhor uma festa regada a substâncias ilícitas.
Inconsolados, perdidos, arruinados em nossa própria escuridão,
afogamos nosso ódio em nossos livros prediletos,
sonhando amores ilusórios ao som de Chopin, caçadas e guerras santas...
nosso peito aguenta mais que nossa cabeça
e pesa, feito marmoré no pé.

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