Utilizando o negócio como ideologia, cinema, televisão e rádio não produzem arte. Verifica-se a industrialização desses meios e a perda de caráter social ao vermos o custo de produção dos materiais divulgados. A técnica atua como meio de poder dos mais ricos sobre a sociedade, que se aliena. Se temos o telefone, que permite uma conexão bilateral, temos também o rádio, que descaracteriza o sujeito ao não permitir uma réplica na comunicação. Adaptações como as de um livro para um filme retiram a originalidade da obra, e a sociedade crê que a película é tão igual ao material impresso. Se essa indústria é alimentada por alguém, cabe aos bancos fornecer os investimentos necessários, e ao governo a tarefa de não interromper o ritmo maçante da produção "cultural".
A indústria cultural manipula a vida do cidadão comum. Tenta assemelhar os fatos de um filme aos da vida, como se um fosse continuação do outro. A atividade mental do espectador é vetada, assim como a sua capacidade interpretativa e de reação às mensagens enviadas. A cultura orgânica que se observava no período pré-capitalista acaba. O tipo de indústria que predomina hoje revela-se como a própria meta do liberalismo que censurava a falta de estilo.
Quem não se adapta a isso é massacrado pela impotência econômica que se prolonga na impotência espiritual do cidadão. A supremacia das instituições existentes nos aprisiona de corpo e alma a ponto de, sem resistência, sucumbirmos diante de tudo que nos é oferecido. As massas enganadas de hoje são mais submissas ao mito do sucesso que os próprios afortunados. Estes, sabem que o sucesso torna-se econômico; aqueles, crêem no estrelato como obtenção de reconhecimento na sociedade.
A novidade do estágio de cultura de massa em face do liberalismo está na exclusão do novo; a máquina gira em torno de seu próprio eixo. Chegando ao ponto de determinar o consumo, afasta como risco inútil aquilo que ainda não foi experimentado. Se algo está dando certo, tem que continuar dando, independentemente de seu conteúdo ou custo. Só o triunfo universal do ritmo de produção e de representação mecânica garante que nada mude, que nada surja que não possa ser enquadrado. Se existe o novo, ele é remodelado e idealizado como parte de um sistema já existente e perpetuado na sociedade.
Arte e divertimento estão sendo reduzidos a um falso denominador comum, à totalidade da indústria cultural. Exibe-se um determinado conteúdo e liberta-se ele de qualquer suspeita, de qualquer sensação sublime, na mente do espectador; o que vale não é a dúvida, não é a subjetividade da arte. A compreensão total desse conteúdo é visto como caráter definidor de arte, assim como a sua objetividade. Não se trabalha mais com a cabeça, com o questionamento, pois o produto nos prescreve de qualquer reação. Toda conexão lógica que exija reflexão intelectual é evitada. Nos filmes dramáticos, policiais, de aventura, não se concede ao espectador a possibilidade de uma progressiva descoberta; tudo é entregue mastigado, lapidado, e permanece igual do início ao fim. Se antes os desenhos animados faziam justiça ao processo definidor de sua história, hoje não fazem mais do que confirmar a vitória da razão tecnológica sobre a verdade. O prazer da violência contra o personagem transforma-se em violência contra o espectador, o divertimento converte-se em tensão. O sarcasmo e a futilidade das ações, absolutamente desconexas, reforçam o vazio das produções.
O sistema inflado pela indústria do divertimento não torna mais humana a vida para os homens. O sistema econômico usa a técnica para consumo estético da massa e não para acabar com a fome. A renda das bilheterias, os bônus de um best-seller, a renda gerada por esse tipo de produção é investida na sua própria manutenção, e na de quem a mantém.
A indústria cultural é pornográfica e hipócrita, reduz o amor à fumaça. Torna o riso um instrumento de fraude sobre a felicidade, apresenta sexo entre gargalhadas. Cria estereótipos e mitos, divulga-os como comuns e relevantes para a sociedade. Oferece uma coisa e priva o consumidor dela, gerando uma frustração permanente. Ela é permanente porque, a partir do momento em que não podemos ter essa coisa, poderemos estar sempre procurando por ela, como um cão que busca o rabo. Enquanto isso, os poderosos tornam-se ainda mais fortes.
A diversão jogada para a massa significa a ausência de seu pensamento, o esquecimento da dor, mesmo onde ela se mostra. E nessa base funda-se a impotência. O querer e não poder ter, o tentar e não conseguir ser. Cria-se uma realidade ilusória para o espectador. Tal fato é verificado na televisão, no cinema. O cidadão comum acredita que pode fazer parte desses meios, mas eles recrutam apenas as pessoas que estejam enquadradas em conceitos que não são necessariamente o talento e o conhecimento. O funil para o estrelato é o fim das capacidades verdadeiras da sociedade. A idealização vence o conhecimento.
Essa tentativa de conseguir algo e não obter funda a condição de que o sistema pode ser tolerado. O indivíduo utiliza seu desgosto para entregar-se ao poder coletivo, que não prevê mudanças. O descontentamento com a realidade é tão grande que parece não haver meios de mudá-la.
A cultura não é mais algo que provoque sensações e crie arrebatamentos mentais no espectador. O valor original de uma obra, o seu caráter histórico, o seu valor enquanto representação pessoal, se perdem. A perplexidade e o sublime são irrelevantes em uma sociedade na qual não vigora o conhecimento. A indústria cultural manipula o conceito de arte, produz materiais de conteúdos duvidosos, divulga-os como isentos de interesses econômicos. Utiliza a idéia de capitalismo e produção em massa como conseqüência histórica da civilização, como uma evolução dos meios anteriormente desenvolvidos. A arte da maneira que é feita gera interesse e lucros, o que moveria o capital dos países e permiria um desenvolvimento econômico maior. O que acontece na verdade é a valorização de um interesse financeiro permanente, enquanto a história e as origens da sociedade são reviradas de maneira voraz. A cultura já não parte do povo como uma manifestação autêntica e espontânea. O cinema, o rádio e a televisão determinam os comportamentos e os pensamentos da sociedade. Esta, não se vê representada nos meios de comunicação, e apenas é induzida e chantageada a consumi-los. A identidade popular construída através do tempo é soterrada pelo concreto dos que detém poder.
Texto retirado do site
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